quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sad Vacation

Título Original: Sad Vacation
Título em Português: Sad Vacation
Realizado por: Shinji Aoyama
Actores: Tadanobu Asano, Aoi Miyazaki, Eri Ishida, Yuka Itaya, Yusuke Kawazu, Kengo Kora, Ken Mitsuishi, Jo Odagiri, Yoichiro Saito, Katsue Nakamura, Maho Toyota
Data: 2007
País de Origem: Japão
Duração: 136 min.
M/12Q
Cor, Som








Com Crickets já se adivinhava qualquer ar de diferente no trajecto cinematográfico de Shinji Aoyama. Se isso é verdade (que se reformulavam novas concepções para um cinema estetizado no limite da rarefacção), então Sad Vacation pode ou não ser a continuação dessa auto-análise em forma de progresso. Em primeiro lugar, nota-se o chamamento de personagens de filmes anteriores (voltam a perfilar tanto o anti-herói grunge de Helpless, Kenji, como a rapariga ressuscitada do caos existencial, Kozue de Eureka) como se Aoyama fosse obrigado a retornar aos espectros que antes criara, como se fosse cativado a dar explicações do seu paradeiro (porque, apesar de se tocarem nos finais de Shinji Aoyama a morte - esse sentimento crepuscular - , a maior angustia é todos os seus personagens se manterem em vida, depois de esbarrarem com o trauma). Dez anos volvidos desde Helpess, voltamos a ver Kenji Shiraishi deambulando confusamente, dez anos depois da carnificina, o personagem continua respirando. Procurando na sua rotina solitária talvez um motivo, uma explicação para continuar.
Assim, é Sad Vacation: uma continuidade de sombras que tentam regressar à luz. Um punhado de personagens forçadas a existirem naquele mundo desconexo tão bem conhecido do nosso realizador. Mas se a desconexão dos seus anteriores filmes era representada pela metáfora dos "altos" e "baixos" existenciais (em que a experiência traumática dava lugar à purificação espiritual), o que este Sad Vacation tem de verdadeiramente assustador é que parece não haver uma razão, um álibi que justifique as motivações dos personagens, tal como vinha sendo feito nos seus outros títulos. Este forçar a existir é igual, então, a uma aporia vital nunca inteiramente respondida, e por isso mesmo, susceptível de criar o sentimento do vazio: o não-se-saber que se sente-alguma-coisa ou que não-se-sente-nada. É pela existência desse caminho bifurcado, plausível nos seus dois sentidos, que em Sad Vacation se ultrapassa também as chamadas jornadas espirituais (em Eureka a viagem muda dos três sobreviventes, em Eli, Eli, Lema a música como salvação da tentação suicida etc.) cujo sentido era o de cortar com os fantasmas do passado, erradicar a noite, iluminando a paisagem ôntica dos que ficaram. Por contraste, aqui todo e qualquer acto de ruptura não serve mais do que prosseguir com o que deveria estar consumado. É que parece haver um amadurecimento (?) temático quando se relativiza as acções heróicas de salvação como não sendo mais plausíveis.
Na realidade, em Sad Vacation, os personagens que foram forçados a aparecer novamente, poderão ser forçados a aparecer numa outra altura. É tudo uma questão de estes terem novas histórias para contar, novos desafios para viverem, pois se com Aoyama nada se resolve pela morte - numa perspectiva rígida seria como um apagão existencial - há uma convicção de que os problemas podem ser resolvidos em vida e na vida. Mas não é ainda aqui que tudo se resolve: Sad Vacation é apenas o que fica depois de se ir vivendo, isto é, de encarar o quotidiano como o esquecimento de acontecimentos importantes, sejam eles bons ou maus.

Nota:3/5

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