sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

The Iron Lady

Titulo Original: The Iron Lady
Título Português: A Dama de Ferro
Realizado por: Phyllida Lloyd
Actores: Merryl Streep, Jim Broadbent, Richard Grant, Iain Glen, Robert Portal
Data: 2011
País de Origem: Inglaterra/França
Duração: 105mins
M/16
Cor e Som











Fui hoje, um dia depois da estreia, ver A Dama de Ferro, numa soberba interpretação de Meryl Streep. Tenho-a, desde há muito, como a minha actriz de eleição e nunca houve um só papel em que me desiludisse. Pelo contrário, surpreendeu-me sempre em cada papel que encarnou. E desta feita encarnou Margaret Tatcher com um desempenho fabuloso, absolutamente excepcional e de tal modo assim é que a actriz desaparece na caracterização que lhe fazem, do rosto à dicção, para dar vida aquela que foi, durante onze anos e meio, primeira-ministra britânica. Não é de hoje que nutro pela cultura britânica uma imensa admiração, nascida de influências várias, mormente televisivas (com séries como The Advengers ou Yes Minister ou ainda filmes como o conhecidíssimo James Bond, entre outros) e literárias, de cuja obra de Jorge de Sena é um exemplo. Sempre me seduziu a peculiar fleuma britânica, cujo expoente se encontra indubitavelmente em Churchill.

Naturalmente que, feitas estas breves considerações, não iria perder a oportunidade de ver um filme que presta homenagem a Tatcher – uma mulher de armas – por quem, não obstante nos posicionarmos em campos políticos abissalmente opostos, tenho imensa admiração, reconhecendo que mudou e revolucionou a política e, mais do que isso, um país inteiro. Filha de um simples merceeiro, Margaret Roberts – mais tarde Tatcher – conseguiu formar-se em Oxford e singrou na vida política, chegando a líder do Partido Conservador e a chefe de Estado da mais velha e tradicional monarquia europeia. Durante os anos em quem governou, de 1979 a 1990, tranformou de tal modo o país, que se tornou num símbolo de determinação e persistência e bem assim do espírito britânico, para aqueles que a adoraram, mas igualmente numa figura odiada e hedionda, para aqueles que não a esquecem, nem o que fez ao país.

É tudo isto o que vemos retratato em A Dama de Ferro e mais ainda. É Tatcher já numa idade avançada que vemos no começo do filme – já fisicamente debilitada e com alucinações sobre o marido já falecido – e que há-de recordar, num processo de analepse, toda a sua história, desde os tempos em que trabalhava na mercearia do pai ao momento em que se torna primeira-ministra e as situações com as quais,ocupando esse cargo, tem de lidar.

O filme não é sobre o tatcherismo, não é político e não vem trazer uma nova visão do que foram aqueles anos de governação. Também não é um filme biográfico, embora se tenha inspirado na obra de John Campbell, um dos seus biógrafos mais reputados. É sobre uma mulher e sobre uma personalidade. Os acontecimentos políticos que surgem são apenas um suporte para a história, que é afinal uma extraordinária história da solidão no poder e do preço elevadíssimo que é necessário pagar por ele. Comovente, em algumas situações. Outras vezes trágico, revelando a debilidade de quem outrora ocupou a cadeira do poder, a fragilidade de quem fora forte;no fundo, a pura e simples condição do ser humano. A Dama já não é de ferro e isso leva a que sintamos grande empatia pela figura.Meryl Streep – nesta sua interpretação genial – impossibilita qualquer possibilidade de distanciamento da velha baronesa Tatcher. Este filme é nem mais nem menos do que a humanização de Margaret, o que confere toda a força ao filme e relança o debate na opinião pública sobre uma das maiores figuras da história do século XX. Tatcher mereceu inúmeras biografias, um sem número de teses e justificava-se agora um filme e uma actriz do calibre de Meryl a interpretar uma das mais carismáticas políticas de sempre da história europeia. A Dama de Ferro é inquestionavelmente um filme que afasta a figura de demonização que muitos fizeram dela ao longo dos anos.

Muito mais poderia ser dito, mas é evidente que nada substituirá o próprio filme, pelo que é absolutamente imperdível. O passado e o presente fundem-se numa narrativa onde apenas sobressai um ser humano. Este filme, como escreve Jorge Mourinha, pode bem ser a coroa de glória de Meryl Streep. Na minha opinião é-o de facto e consagra-a como uma das maiores actrizes vivas de sempre.


Nota:

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