domingo, 29 de abril de 2007

Eri, Eri, rema sabachttani?

Título Original: Eri, Eri, rema sabachttani? (Eli, Eli, lema sabachtani?)
Título em Português: My God, My God, Why Hast Thou Forsaken Me?
Realizado por: Shinji Aoyama
Actores: Tadanobu Asano, Aoi Miyazaki, Mariko Okada, Masaya Nakahara, Yasutaka Tsutsui, Masahiro Toda
Data: 2005
País de Origem: Japão
Duração: 107 min.
M/12Q
Cor, Som







Após Yûreka(Eureka) e seu introspectivismo transcendental, depois de Tsuki no Sabaku (Desert Moon), e sua tentativa malograda de caracterizar o Japão actual, e depois de Reikusaido Mada Kesu (Lakeside Murder Case) e sua manifestação hiperbólica da competitividade na sociedade moderna, chega-nos este Eli, Eli lema sabachtani?, uma obra que tal como as anteriores aqui referidas lapida bem a ambiguidade, o egoísmo e o fim da sociedade humana. Embora a obra de Shinji Aoyama tenha sempre um cunho apocalíptico, ela sempre tenta renascer das cinzas da destruição, convivendo com essa realidade, revivendo novamente. Ora, em Eli, Eli, o mundo está infectado por uma doença que provoca o suicídio. Este cenário apocaloptíco, ocorrido num futuro bem próximo, é apenas uma metáfora para um certo niilismo que já era palpável em Helpless, de 1996, sua primeira obra. Em Helpless havia a existência de um ambiente alienado pela filosofia "grunge", donde a vida dos jovens - essa obsessão de Aoyama - era tida como sem sentido, e por isso tudo era permitido à luz da relatividade dos valores e da moral. Em Eli, Eli a doença é alienável e alienante, visto que todos os humanos podem apanhar o vírus, que, em tom de brincadeira leve, se chama Síndrome de Lemmings. O mundo está, logo no princípio, desorganizado, triste, desesperantemente vazio. É com esta permissa que devemos começar a ver o filme Eli, Eli, lema sabachtani?, cujo título traduzido é Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?
O filme é muito concentrado em reflexões e apaziguamento espiritual. Mesmo sem balbuciar uma única palavra - à semelhança de Eureka - o espectador, mais uma vez, se tenta purificar ao abrigo de paisagens, sons e caras subtilmente e silenciosamente filmadas (embora ainda podessem ter sido melhor exploradas...); quase como se aqueles dois jovens que experimentam tons, graves, agudos - música -, fossem dois exorcistas à procura do som original. Visto que o som tal como o conhecemos, não existe já, estando derretido no desespero desse cenário futurista, onde não existe Deus, nem moral, nem humanos. A rapariga infectada que se quer suicidar, e vai ser deparada com esses dois magos, é também, o espectador que, ao contrário dela, se vai esvaziando à medida do filme, ora, ela vai-se enchendo.
A cura final, não depende, então, só da música, ela também é a vontade. A vontade que morreu totalmente em Helpless, e que morreu parcialmente em Yûreka - sendo depois alcançada. É o problema da vontade que determina a cura do desejo de morrer. Esse desejo que é fruto do mimetismo e que se massifica na relatividade falsa do mundo. Ora, aquela música é absoluta, ela é o despertar das sensações dormentes. Ela é a esperança do mundo, em última estância.
No final, Eri, Eri, rema sabachttani? é pueril, é simples - mas não simplista - é cinema em estado absoluto.

Nota: 3/5

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