quarta-feira, 25 de abril de 2007

Saam Gaang Yi

Título Original: Saam Gaang Yi
Título em Português: 3...Extremos
Realizado por: Fruit Chan, Park Chan-Wook, Takashi Miike
Actores: Miriam Yeung, Bai Ling, Tony Ka Fai Leung, Lee Byung-Hun, Lim Won-Hee, Gang Hye-Jung, Yum Jung-Ah, Kyoko Hasegawa, Atsuro Watabe
Data: 2004
País de Origem: Coreia do Sul, Hong Kong, Japão
Duração: 125 min.
M/18
Cor, Som








3... Extremos é uma antologia de filmes asiáticos. Reagrupa três mestres do horror e do mistério em três contos diferentes caracterizados pelo seu radicalismo. Fruit Chan, Park Chan-Wook e Takashi Miike são os mestres convidados. Cada um especial na sua forma e temática, esgrimindo características diferentes, porém, no geral, existe aqui sempre um distânciamento dos velhos cânones dos filmes do horror. Desenganem-se aqueles que vão procurar em Saam Gaang Yi uma enciclopédia de lugares comuns e de thrillers vazios de sentido, mas fortes em emoções. Na verdade, há sempre uma procura - em todas as histórias - por um significado, de algo que explique o factor extremo, que aqui é levado até às últimas consequências. Por isso, não há nunca a existência do sobrenatural ou do mistério inexplicável. Tudo se pode justificar à luz da narrativa dos episódios.

Em "Dumplings" (Preciosa Iguaria) - primeiro segmento - denunciam-se as complexidades e contriariedades dos tempos-modernos: a procura da beleza e da eternidade pela barbárie. Ching - mulher na crise da meia-idade - está pronta a tudo para conseguir o elixir do rejuvenescimento, que lhe permetirá reviver com saudade os seus melhores tempos, seduzindo assim o seu marido. Através de uma fórmula mágica de Dumplings de uma misteriosa exorcista, Ching acha que revitalizando o corpo, irá revitalizar também a mente. Mas, estando enganada, a sua obsessão por enganar o tempo, terá problemas incomensuráveis.
Fruit Chan realiza com mestria este episódio que aponta o dedo ao egoísmo e às pressões da sociedade, que vê na mulher, acima de tudo, um objecto estético, uma prostituição mascarada, não por cosmética, mas sim por antropofagia. O canibalismo é, portanto, uma hipérbole para esse desespero do envelhecimento. O desejo egoísta de não acompanhar o tempo, transmuta o ser humano num monstro. E, desste modo, Fruit faz-nos viver essa experiência horrível, não pelo sobrenatural, mas como já se disse, pelo exagero, pela metáfora.

O segundo segmento, "Cut" (Corta), cozinhado por Park Chan-Wook, relembra-nos o tema central da sua obra mestra: a trilogia da Vingança. Todavia, se anteriormente existia uma ou várias razões que dividam o espectador quanto ao significado do acto de vingança, veja-se, por exemplo, os dilemas em Boksuneun naui geot (Sympathy for Mr. Vengeance), em "Cut" a razão da vingança é mais directa e mais visceral. Diz respeito às dictomias entre rico e pobre. O pobre odeia o rico, seria suposto o rico odiar o pobre. Porém, Ryu Ji-Ho, realizador e a personagem principal deste capítulo não odeia ninguém. É simpático, trabalhador e honesto com todas as pessoas. O que acontece, então, ao pobre que vê o rico ser bom? É esta a principal razão dum intruso que rapta a mulher do realizador e o coloca numa prova de fogo - prova essa, semelhante, por breves momentos, ao encontro final de Dae-Su e Woo-Jin em Oldboy.
A realização tem os seus momentos altos. Muitas vezes, o desespero agudiza-se e torna-se comédia. Outras vezes, a situação revela-se insuportável e surrealmente destrutiva. No final, "Cut" faz-se demasiado sensacionalista, porém, não se deve comparar este estilo com o fraquinho Saw, pois, há passagens aqui que elevam aos píncaros a arte, o suspense e o thriller de Chan Wook. Em suma, uma obra mediana, tendo em conta o triunfo trágico de um Oldboy ou relembrando a vitória artistíca e reflexiva de Chinjeolhan Geumjassi (Sympathy for Lady Vengeance).

Já em "Box" (A Caixa) - terceiro e último segmento - não podemos referirmo-nos a essa medianidade de "Cut". Antes pelo contrário, Takashi Miike executa uma obra distante da banalidade (e comercialidade) de Chakushin Ari (Uma chamada Perdida), e memoriza-nos o seu Ôdishon (Audition), na melhor das formas. "Box" é grandioso pela sua narrativa quimérica, pelos seus promenores técnicos sublimes, pelo seu visual estrondoso, e pela forma como se conta e reiventa uma história de mistério. Mesmo a violência e o choque não são como as suas outras obras. Aqui, há uma suavidade no que se deve mostrar, um constante cuidado na fotografia, e uma realização, não frenética e furiosa, mas sim, contemplativa, bela e silenciosa. Ao contar a história de Kyoko, uma romancista marcada por um trauma de infância que a persegue, Miike, não quer fazer um drama de horror à la Hideo Nakata, nem quer um thriller obscuro como é Ringu (Ring), antes disso, prefere viajar dentro dos sonhos, do inconsciente dessa mulher e descobrir, exorcizando, os espíritos malignos que a atormentam. Uma obra que assume uma beleza extraordinária.

3... Extremos é, assim, uma amostra competente e patenteada, do que de melhor se faz no Oriente.

Nota: 3/5

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem, acho que este nao e o sitio mais inteligente para deixar esta mensagem mas gostava de vos sugerir um filme que vi a pouco tempo, Survive Style 5+. Um filme japones que quanto a mim se destaca pela sua originalidade e optima produçao e que facilmente se destacou como um dos meus preferidos.
Espero que possam fazer uma analise deste filme.
Obrigado e continuem o bom trabalho.

Miguel P. disse...

Sim... também vi o Survive Style 5+ há pouco tempo. Este e o Funky Forest:The First Contact - também to aconselho - são dos mais originais filmes dentro do género que conheço.. ambos japoneses. A crítica estará, certamente, disponível brevemente. Até lá, continua a criticar, a deixar as tuas opiniões neste blog que é de todos os amantes de cinema.