quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

American History X

Titulo Original: American History X
Titulo Português: América Proibida
Realizado por: Tony Kaye
Actores: Edward Norton, Edward Furlong, Beverly D’Angelo, Stacy Keach, Fairuza Balk, Avery Brooks, Ethan Suplee, Jennifer Lien, Guy Torry
Data: 1998
Pais de Origem: Estados Unidos
Duração: 114min.
M/16
Cor, Som







“His father taught him to hate. His friends taught him rage. His enemies gave him hope.”

Será a visão de Tony Kaye suficientemente profunda, ao ponto de tornar América Proibida num filme indispensável e influenciador de gerações? Será que um homem que filmava anúncios de TV era capaz de tamanha obra que explora o ódio de forma tão pura?
A missão não era fácil, conseguir retratar o submundo neo-nazi californiano, enquanto um irmão lutava desesperadamente contra todos os seus credos e convicções para salvar aqueles de quem mais gostava.
Vou tentar humildemente analisar o filme, visto qualquer opinião ser demasiado pequena para com obra tão transcendente e pura.
Quem ouve falar pela primeira vez de América Proibida pode julgar tratar-se de um simples filme, mais uma produção onde alguém se depara com os seus erros e tenta corrigi-los, sem ter qualquer implicação no futuro. Totalmente o oposto, América Proibida conseguiu acabar com esse estereótipo e conseguiu acima de tudo uma equidade de juízos. Conseguiu também gradualmente e empolgantemente mostrar que o ódio tolda o nosso raciocínio e a nossa mente.
A liderar as hostes deste filme estava Edward Norton (Primal Fear, The People vs Larry Flint, Rounders, Figth Club, The Score,Red Dragon, Kingdom of Heaven, The Illusionist, The Painted Veil, The Incredible Hulk), o actor pelo qual nutro mais respeito e admiração na sétima arte. É um actor que acima de tudo, dá uma credibilidade e mostra uma entrega como ninguém nos seus filmes, dá-lhes aquele toque pessoal que os torna tão apaixonantes. Mas vou separar-me desta admiração para conseguir uma análise justa e objectiva.
O primeiro contacto com o filme é algo de admirável, maravilhando-nos com uma bonançosa paisagem a preto e branco. Aliás esta técnica foi usada durante o filme para mostrar momentos passados da vida de Edward Norton que neste filme representa Derek Vinyard um ex-skinhead acabado de sair do encarceramento. O filme começa na noite que levou à prisão de Derek. Pode parecer uma cena comum, como mais uma cena de tiroteio à la americana, mas enganem-se. O que nos salta á vista não é o tiroteio em si, é todo um desfilar de ódio muito bem orquestrado e representado por símbolos nazis que Derek tem tatuados no seu corpo e a frieza com que no final se vira, para acabar o seu trabalho e obrigando o negro caído a colocar a boca no lancil do passeio, destruindo-lhe o crânio com um rude pontapé. Juntando a isto, no momento da sua detenção olha para o irmão e eis que esboça um cínico e maléfico sorriso de prazer. Edward Norton no seu melhor. Edward Furlong (Terminator 2: Judgement Day, American Heart, Before and After, Dark Reel), no filme Danny Vinyard, representa o típico irmão facilmente influenciável e que acaba por entranhar-se no mesmo mundo de que Derek foge, mas em que outrora encontrou o seu refúgio. Convenhamos, Derek entra para este mundo de ódio por ele também ser um rapaz facilmente influenciável, e essa passagem é feita através de uma lavagem cerebral a que é sujeito por Stacy Keach, que representa Cameron Alexander.
A transição do passado para o presente foi genialmente pensada, vemos Danny á espera para entrar no escritório do director da escola, Dr. Bob Sweeney, e apercebemo-nos de como a personalidade de Danny está totalmente moldada, mostrando uma frieza e um ar de desafio estranhamente perturbantes. É nesta cena que vemos o quão influenciável Danny é, ao ser confrontado com o trabalho sobre o Mein Kampft que realizou.
Mas recuemos um pouco, Derek foi influenciado a vida toda, sem ter dado conta. Foi influenciado principalmente por comentários racistas vindos do seu próprio lar, vindos do seu pai, aos quais aderia sem sequer questionar. Culpando as minorias por a morte do seu pai, estava aberto o caminho para uma vida de reprovação por outras raças e para uma vida de violência que iria ter consequências muito superiores ao que poderia imaginar.
É na prisão que Derek, ao ter que fazer tudo para sobreviver, aprende a maior lição da sua vida, aprende uma lição que não sabia se estava preparado para ela, contando com a ajuda do seu antigo professor e agora director da escola. Toda a cena da prisão deve ser vista com muito cuidado, e com olhos de lince, é aqui que o filme explode para um novo rumo. Vai ao âmago da condição humana e explora como nenhum outro filme a força de sobreviver dentro de uma prisão. Mostra a transformação a que se está sujeito num mundo restrito, mas extremamente hostil e diversificado.
Não me esqueci de falar do grande amigo de Derek, Seth Ryan que desempenha neste filme um papel de extrema qualidade, e de extrema importância. Não era um papel fácil, como ser o melhor amigo de um líder skinhead com um ego desmedido e ao mesmo tempo ser o “pateta” do grupo?
Derek ao sair da prisão depara-se com toda uma realidade que não poderia imaginar, a família vive em condições pouco saudáveis e Danny está a um passo de nunca mais sair deste mundo preparado por Derek e perpetuado por Seth, que não dispensava as suas visitas frequentes a casa do clã Vinyard.
Aos poucos e de forma gradual vamo-nos deparando com as alterações de personalidade que Derek sofreu. Apresenta um ar mais descansado e apercebe-se que tais ideias só lhe tinham causado mais bem que mal estando igualmente a pôr em perigo a família. Volta para lutar contra os fantasmas do passado e tentar salvar o irmão. Derek estava consciente que tinha o mais rapidamente de salvar Danny, mas não era fácil. Apesar de não parecer, o espaço temporal em que o filme decorre no presente é de um dia. Derek tem um dia para emendar os seus erros e voltar a criar uma estabilidade há muito perdida por uma vida dedicada ao racismo e ao ódio. Encontra-se numa situação muito frágil e que ao mínimo obstáculo poderia desabar, e eis que impensável acontece. Danny é morto na escola por afro-americanos, sendo a cena final, a mais poderosa de todo um filme arrebatador, deixando o espectador a pensar de qual será o futuro de Derek. Toda a sua nova identidade vai ser posta a prova. Vai conseguir enfrentar os seus medos e ultrapassar de forma justa esta situação, ou vai mostrar que afinal não é tão forte como parece e deixar-se levar outra vez pelos fantasmas do passado? Cabe a cada um depreender e decidir o que pode acontecer. A história desenrola-se de forma fluida e lógica, seguindo uma sequência interessante e conseguindo Tony Kaye realizar um portento do cinema.
Estamos perante um filme extraordinário, a sua mensagem é sem meias palavras e sem medos de reprovações bem passada, tomamos consciência que todo e qualquer ódio não são fundamentados, que não podem existir mentes fechadas a acreditar na supremacia branca.
América Proibida envolve-nos do inicio ao fim, consegue criar uma relação muito intima com o espectador, não só pela maneira como a história é conduzida e pela forma como chegamos a conclusões lógicas do problema social que é o racismo, mas também pela maneira como o elenco se portou perante obra de tamanha importância. Todos os holofotes estão centrados em Edward Norton que tem uma actuação estrondosa, única e irrepetível. Estaria um dia a escrever adjectivos para classificar a prestação de Edward Norton. Foi nomeado para um Oscar da Academia na categoria de Melhor Actor pela sua prestação.
Quero salientar que apesar de tudo, apesar de todos os seus pontos fortes, América Proibida encontra na mãe de Derek e Danny o seu ponto fraco. É-nos apresentada por Beverly D’Angelo, e não lhe tirando o mérito reconhecido, encarna uma personagem que considero algo vazia. Pondero também que o filme tenha sofrido um pouco falta de divulgação, mas quem sabe talvez até tenha sido bom, tornando este filme não numa produção hollywoodesca mas sim numa produção de discussão e de reflexão étnico-social deixando aquela tão benéfica margem de liberdade que estes filmes têm.

“See reality in your eyes when hate makes you blind”

Nota:

Outras Notas:
Miguel Patrício: 2/5
David Bernardino:
Pedro Mourão-Ferreira:

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