sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Kozure Okami: Kowokashi udekashi tsukamatsuru

Título original:Kozure Okami: Kowokashi udekashi tsukamatsuru
Título em Português:Lone Wolf and Cub:Espada de Vingança
Realizado por: Kenji Misumi
Actores:Tomisaburo Wakayama, Akihiro Tomikawa
Data:1972
País de Origem:Japão
Duração:83 min.
M/16
Cor, Som








O primeiro de seis filmes baseado no extensissímo manga de Kazuo Koike e Goseki Kojima, Kozure Okami marca aquela época fatídica do cinema japonês em que não se crê já nas obras dos antigos mestres como Ozu, Mizoguchi ou Kurosawa. Época de renovação alternativa com as obras de N.Oshima - cujo modelo vem da nouvelle vague francesa de Jean Luc Godard -, podemos afirmar que nesta altura os filmes dividiam-se em dois: os de acção e divertimento e os de conteúdo extremo seja político seja social.
Este primeiro filme da saga enquadra-se, sem dúvida, no primeiro movimento referido: a realização, a narrativa, as personagens sofreram inovações tão grandes que podemos afirmar que esta saga e mais duas(Zatoichi e Lady Snowblod) são os épicos maiores de jidai-geki (histórias de samúrais) de todo o cinema japonês.
Por traços largos, a história passa-se num Japão feudal governado pela hierarquia dos senhores das terras, Ogami Itto - o carrasco do império - é traído e metido num escândalo de atentado contra ao imperador. A sua mulher dá à luz uma criança, e logo a seguir morre. Esta criança será o filho da esperança, mas também a contradição do diabo da vingança com o anjo infantil. Ogami Itto, preparado para conhecer o seu fatum, perde os sentimentos e torna-se num inimigo estóico anti-budista e anti-imperial. Ele deixa de ver as causas, só pretende os efeitos. E por isso, torna-se num assassino a conta própria conhecido pelos seus métodos eficazes e perfeição no trabalho.
Aqui já se falou nos constantes temas de vingança, Kozure Okami não é uma excepção, afirmando-se como um filme exageradamente violento graficamente, é nos sentimentos daquela dupla estranha que reside o poder de um filme com uma história sempre tão simples e simplista.
Veja-se como por exemplo Kill Bill vaí beber a Kozure Okami (e Lady Snowblod) certos temas: a violência, o sangue e as batalhas demasiado irrealistas, o estaticismo das personagens zen, a seriedade à Ogami Itto, para nem falar no tema da vingança do homem contra o mundo pela espada.
Tomisaburo Wakayama reflecte na sua prestação uma frieza e expressão abatidas, como se, no final daquela jornada pelo Meifumando (Inferno budista) - por entre o caminho de fogo e espada que os dois escolheram - fossem recompensados com a gratidão dos deuses que renegaram e dos sentimentos que deitaram ao mar. Kozure Okami, apesar de se mostrar hoje, como um filme já visto, é também poético na música e na fotografia e no cunho vincado de personalidade que carregam as personagens - note-se a cena em que Itto aceita deitar-se com a prostituta para salvar a sua pele dos bandidos do aubergue.
Kozure Okami: Kowokashi udekashi tsukamatsuru mostra-nos, por último, a beleza das batalhas sangrentas. As coreografias são de louvar, e os movimentos e até o próprio sangue realçam no ecran como se fossem flores de cerejeira - curiosamente seria a palavra que Takeshi Kitano descreveria melhor o sangue e as batalhas na sua versão da história de Zatoichi, cerca de 3o anos mais tarde.

Nota: 3/5

Outras Notas:
Pedro Mourão-Ferreira: 3/5
David Bernardino: 3/5

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