domingo, 27 de maio de 2007

Dongdong de Jiaqi

Título Original: Dongdong de Jiaqi
Título em Português: A Summer at Grandpa's
Realizado por: Hou Hsiao-Hsien
Actores: Guo Yen Zheng, C. Chen Li, Mei-Feng, Yang Lai-Lin, Edward Yang
Data: 1984
País de Origem: Taiwan
Duração: 93 min.
M/6Q
Cor, Som









Primeira obra-prima de Hou Hsiao-Hsien, Dongdong de Jiaqi (Um Verão com o avó) espelha, antes do mais, um conto belíssimo, simples e nostálgico, onde um rapaz - e a sua irmã mais nova - visitam e passam o Verão com os avós. Analogamente a esse primeiro filme de autor, que era The Boys From Fengkuei, este Verão com o Avó também se baseia nas memórias individuais de uma certa ânsia de contar as histórias da ruralidade de Taiwan. Desta vez o filme é parte das remeniscências da escritora e argumentista Chu Tien-Wen, porém, não podemos certamente visionar este filme - que rememora, como não poderia deixar de ser, Kikujiro de Takeshi Kitano, Ohayô de Yasujiro Ozu ou Yi Yi de Edward Yang, este último, que aparece aqui como actor e escreve a música da película, - como um simples albúm de recordações infantis passadas para a celulóide. Embora sejam estas memórias individuais - como são igualmente as de A Time to live, A Time to die ou A Dust in the Wind, os outros dois próximos filmes deste gentil realizador - notamos sempre uma semelhança espantosa com as próprias vivências - também individuais - do espectador. Poderíamos dizer que é na união das memórias individuais de todos os intervenientes do filme que reside a sua própria magia: quem nunca se lembra da figura daquele avó austero, mas no fundo, o mais carinhoso?; quem nunca brincou com aqueles amigos que só se fazem num Verão até ao Sol se pôr?; quem nunca, em suma, se debruçou à janela sem esperar nada, naquela ociosidade pura e própria das crianças que, vendo o mundo de forma transparente, tudo se parece, inocentemente, cristalizar, por meio de um olhar, um suspiro.
E depois é a beleza em forma mensurável: a mulher com problemas mentais que, sendo discriminada por todos, trava amizade com a irmã do rapaz, salvando-a de ser atropelada na linha ferréa; o tio dos rapazes que decepciona o avó; a aventura com os dois ladrões da aldeia etc. A totalidade destes episódios mundanos revestida com uma beleza e uma humanidade própria deste nosso realizador de Taiwan, faz de A Summer at Granpa's mais do que um pequeno diáro de Verão, é, acima de tudo, uma pintura nostálgica em movimento; as cores brilhantes, os planos cuidadosos, a actuação quase documental (será que existe?) dos actores, a narrativa que não evoluí para um clímax, antes prossegue sem proseguir, movimenta-se estando estagnada.
Enfim, o filme acaba com um adeus numa encosta - que todos nós já demos, num passado não muito distante - aqueles amigos especiais veranescos. O rapaz vai voltar para a sua vida na cidade e fica - em forma poética - um testamento fabuloso do que foi aquele Verão tão mágico... tão efémero..., e que no final de contas, representa aquela despedida a uma realidade que, a partir deste momento, se torna inatingível. É como alguém disse: "Goodbye Summer, Goodbye Chilhood".

Nota:

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