quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Il Decameron

Título Original: Il Decameron
Título em Português: Decameron
Realizado por: Pier Paolo Pasolini
Actores: Franco Citti, Ninetto Davoli, Jovan Jovanovic
Data: 1971
País de Origem: Itália/França/Alemanha
Duração: 106 min.
M/16Q
Cor, Som










Il Décameron, primeira instalação na triologia erótica de Pier Paolo Pasolini - a Triologia da vida -, caracteriza-se como um elogio ao amor sensual. Neste caso, ao amor cómico: pois sexo e risada rídicula são amigos próximos.
Baseado na obra lírica do século XIV de Giovanni Boccacio com o mesmo nome, Il Decameron é uma junção de nove histórias seleccionadas, em que a sublimação da vida e da felicidade contrapondo com uma sátira às instalações cléricais e ao aprisionamento do espírito são alegóricos a um ideal de cinema dos anos 70. Tal como Nagisa Oshima ou Jean Luc-Godard, Pasolini tentou transfigurar o cinema numa arte ultrapassadora de barreiras morais. Numa arte pura na sua realidade, e nunca púdica no seu tratamento de temas. Em Acattone (1961) - primeiro filme de Pier Paolo - já se demarcava o nascimento deste estilo tão próprio da década de 70. Um estilo chocante e revolucionário nas suas temáticas despidas de preconceitos ou tabús.
Assim, Il Decameron (e quase toda a cinematografia de Pasolini) foi visto pela crítica como um filme Maldito, que incitava à pornografia e à malandrice tipicamente italiana. Ora, é verdade que presenceia-se no filme uma quantidade enorme de nús e cenas de erotismo. Mas não é intenção do filme passar-se por pornográfico. A finalidade do filme é representar um estilo de comédia absurda que critique a Igreja na sua totalidade. É pela sátira das personagens ligadas à religião que o filme vive. Por isso, repare-se que em todas as histórias a religião é implicada de uma forma escandalosa, quer seja pelo padre exorcista tarado, pelas freiras estranhamente necessitadas, pelos amigos que desejam saber como é a vida depois da morte etc. Na verdade, o lado erótico é só mais uma provocação aos púdicos e puritanos, algo que se enquadra na vertente cómica e provocativa do filme.
Algo próprio da cinematografia de Pasolini, é a naturalidade dos actores. Na verdade, os actores de Il Decameron não são actores: são jovens da rua, que o realizador escolhia para representar os papéis. Outra marca de Pier Paolo é o seu modo de filmar: planos exuberantes, o abuso do plano e do contracampo, os constantes tremores da camera, o corte na edição para paisagens entre outros.
Para finalizar, Il Decameron não é um filme para a audiência em massa. É um filme contador de histórias belas e alegres, porém visto pelos olhos do colectivo é tudo menos um alegre trovador, cantando as suas narrativas. Contém momentos mágicos e simples, mas nem toda a gente percebe a simplicidade. No fundo, quando falamos do cinema dos anos 70, falamos sempre, quer queiramos quer não, de um cinema intelectualizado.

Nota: 3/5

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