sábado, 16 de dezembro de 2006

Xiao Wu

Título Original:Xiao Wu
Título em Portugês: O Carteirista
Realizado por: Jia Zhang-Ke
Actores:Wang Hong-wei, Hao Hongjian
Data:1997
País de Origem:China
Duração:105 min.
M/12Q
Cor, Som










Xiao Wu, primeiro filme do realizador - cada vez mais aclamado - chinês Jia Zhang-ke, apresenta-nos as mesmas temáticas obsessivas de filmes como Zhantai (Plataforma), de 2000 e Ren Xiao yao(Prazeres desconhecidos) de 2002 - caracterizar a atípica sociedade chinesa pós-revolução cultural maoísta, que se encontra desorientada quanto à sua identidade e sem rumo quanto a um futuro negro e desconhecido.
Muitas vezes vemos na cinematografia de Jia Zhang-ke aquilo que Ozu já fazia nos anos 40 e Bresson nos anos 60 (o título do filme é uma referência explícita a Pickpocket), a busca incanssável pelo real. As câmeras parecem nem existir, os actores muitas vezes são pessoas normais, sem cursos nenhuns no que concerna a actuação, para nem referir a qualidade cénica ou material. Na verdade, os recursos são escassos, e neste Xiao Wu particularmente muitas vezes duvidamos se não estamos a ver um filme amador. O actor principal Wang Hong-wei - que, também apareceria em Zhantai - dá-nos um papel amadoramente poderoso. Como já referi, a construção da narrativa e da realização fornece-nos a ideia de que o filme é um documentário, que dia-a-dia vai sendo desenvolvido sobre um carteirista e a sua vila natal.
Xiao Wu é um ladrão que se recusa, a sair da sua vida criminal e da sua vila natal. Vila essa marcada ainda por um subdesenvolvimento digno de um País da terceira geração. Todos os seus amigos abandonaram a vida das ruas ficando o pobre carteirista sozinho, acabando por viver por conta-própria. A solidão, refira-se, está sempre presente a cada esquina das ruas sujas. Seja quando Xiao encontra velhos amigos que o ignoram, fingindo que ele nao existe; ou ainda a urgência da evasão que o carteirista centraliza nos gastos supérfluos com as raparigas nos bares.
Note-se que a sensação de abismo, da estagnação, da apatia e do aborrecimento e cansaço também elas estão presentes numa vila, representando o micro-espaço da civilização chinesa dos anos 90: Xiao Wu falha na vida apenas porque existe. Não havia mais hipóteses de re-ganhar essa dignidade perdida - por isso, opta pela solidão e pela marginalidade - como substitutos de uma vida livre sem se inserir nos canônes impostos pela sociedade comunista chinesa burocrática e desorientada no espaço e no tempo. Jia Zhang-ke auto-afirmou-se, uma vez, como um realizador de espírito Punk: este seu primeiro filme, embora ainda do período de maturação, é já uma pérola dos costumes e das vivências chinesas do século XX, com um cunho bastante revolucionário.

Nota: 2/5

1 comentário:

Anónimo disse...

este filme deixa agua na boca