segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Nora Inu

Título Original: Nora Inu
Título em Português: Cão Raivoso
Realizado por: Akira Kurosawa
Actores: Toshiro Mifune, Takashi Shimura, Keiko Awaji
Data: 1949
País de Origem: Japão
Duração: 122 min.
M/12
Preto e Branco, Som










Nora Inu apresenta-se como um filme noir dentro da tradição americana. Porém, várias vezes este filme inventa-se a si próprio e transforma-se num conto neo-realista na esteira dos filmes do pós-guerra italianos como Ladri di biciclette (Ladrão de bicicletas), realizado um ano antes. Na ázafama urbana e nas deambulações, Kurosawa pretende demonstrar a pobreza e a miséria de um país saído perdedor da Segunda Grande Guerra. E na verdade, fala-se também de guerra neste filme.
Toshiro Mifune representa o Detective Murakami, que um dia perde a sua pistola. Triste e desonrado (na tradição dos samuraís), o detective pede ajuda ao seu mestre e mentor: - actuado por Takashi Shimura - o Detective Sato. Para além de se estabelecer um dos temas, sempre que possível, omnipresente: a relação mestre-discípulo, neste filme, Sato é também a personificação de um Japão velho, sagaz e sapiente porém com cicatrizes profundas do passado que não sararam.
O príncipio do filme surge-nos como rápido, fugaz, demasiado apressado; veja-se os vinte minutos de passeios por entre os grandes locais urbanos, por entre os gemidos de um povo silenciado pela fome e pela pobreza. As técnicas utilizadas nestas cenas: os cortes elípticos, a posição dinâmica da câmara aliado à narrativa imprevisível - estilo à la Hitchcock - fornece-nos essa noção do filme noir que Kurosawa também desejava transmitir.
A procura da pistola é quase simbólica: faz o jovem detective Murakami observar, passear e perceber as razões do roubo. Permite-lhe conhecer a jovem dançarina - e quanto a este aspecto observe-se a pobreza e as màs condições que rondam aquele clube e a vida daquela mulher - e também o próprio ladrão. E veja-se qual é a reacção do ladrão quando é apanhado. Chora, e chora não por ter sido apanhado, mas porque a sua vida não lhe permitiu escolher outro caminho. A pobreza gerou-lhe a marginalidade. Assim, no final, o choro quase infantil - remetendo para uma perda da primeira idade - dá a Murakami a força que necessitava. É esse o Cão Raivoso que o título se refere, raivoso pela sua impotência, pela sua necessidade de se escapar a uma realidade. Quanto a esta última cena aqui referida note-se o local e a forma como foi realizada. Realmente sublime e magnífica. Nora Inu seria um ensaio para o melhor filme noir de todos os tempos: Tengoku To Jigoku (Altos e Baixos) realizado 14 anos mais tarde.

Nota: 3/5

Sem comentários: